sábado, 3 de dezembro de 2011

O Senhor Governador e os chavalos do brinco...

Não sei se o Governador do Banco de Portugal tem alguma coisa contra indivíduos que usam brincos ou piercings, mas o episódio de ontém na AR, envolvendo o deputado João Galamba, é já uma das pérolas desta sessão legislativa.
Nos últimos dias, e mau grado algumas declarações que declaram a falência das teorias económicas, o debate político tem utilizado muitas teorias e termos da economia clássica, o que irrita, é certo, algumas pessoas que não os dominam. Na semana passada era Manuela Ferreira Leite a falar na famosa "Curva de Laffer", alertando o Governo para o facto de um aumento numa taxa de imposto nem sempre conduzir a um aumento de receita fiscal - é isso que diz a teoria de Laffer. Agora foi Carlos Costa a explicar o que é o Crowding Out. Em português designa-se por Efeito de Evicção ou de Deslocamento e, basicamente, consiste em dizer que sempre que o Estado adopta políticas expansionistas isso provoca um efeito de redução do consumo e investimento privado pois os recursos monetários, sendo escassos, ficam fora do alcance das famílias e empresas. Este efeito é ampliado pelo aumento das taxas de juros que decorre da escassez de liquidez no mercado financeiro. Foi exactamente isso que aconteceu em 2008/09! O deputado João Galamba, que até é economista, deve saber isto. Mas o que é que se pode esperar de alguém que em relação ao PEC III de Sócrates disse que era "economicamente desastroso mas financeiramente necessário"??!!
Este episódio é sintomático do actual estado do PS que tem consequências no comportamento da sua bancada parlamentar. Por um lado, temos os pesos-pesados (basicamente os membros do anterior Governo) a ocupar confortavelmente as últimas bancadas do hemiciclo, o que se compreende e até abona em seu favor: por um lado estão a fazer a sua travessia do deserto, por outro demonstram ter a noção da situação desastrosa em que deixaram o país, não tendo, por isso, muita autoridade para falar. Por outro lado, temos um grupo de "jovens turcos" a querer mostrar serviço, mas, como muito pouca humildade: Pedro Marques, Pedro Nuno Santos e João Galamba, todos nascidos já no pós 25 de Abril, falam com uma tal arrogância, que quem os escuta até pensa estar na presença de pessoas com grande currículo fora da actividade política. Nada disso... fico triste ao ver que a minha geração recorre à arrogância, quando podia recorrer, apenas, à irreverência.