quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Com um olho no grego e o outro no cigano"

Qual a diferença entre uma arruada e uma arruaça? Por vezes, a diferença é apenas uma letra...


“Eu vou votar nele! Ele pode ser (pííííííííí) mas eu vou votar nele!” dizia uma apoiante de José Sócrates eufórica aos microfones da TVI, por ocasião da arruada desta tarde, na Rua de Santa Catarina, no Porto. Esta é uma transcrição que eu não comento, apenas convido a que vejam o vídeo...

Está a chegar ao fim a Campanha Eleitoral. Não me recordo de uma campanha em que os protagonistas chegassem ao fim tão exaustos e tão roucos. Esta foi uma campanha à “moda antiga”. Voltámos a ver comícios com discursos de megafone na mão, em cima de capots de automóveis, de reboques de tractores agrícolas... O povo anda desanimado e triste, mas a verdade é que, por muito que se fale das novas tecnologias e das redes sociais, nada substitui o contacto pessoal. Pelo menos, por altura da campanha, os políticos estão acessíveis e essa é a parte positiva.

Houve outros aspectos positivos nesta campanha:

  • menos outdoors. Aí o mérito é para Paulo Portas que lançou o mote da poupança e acabou por condicionar o outros partidos políticos;
  • foi menos marcada por casos, fait-divers e “cortinas de fumo”, quando comparada, por exemplo, com a Campanha das Legislativas de 2009, em que, basicamente, não se discutiu a situação do país;
  • houve bastante adesão popular, afinal os partidos não estão esgotados.

Houve também, claro está, aspectos negativos, quase sempre com um denominador comum: o PS. Seja o caso dos imigrantes e estrangeiros abarbatados e arregimentados em autocarros para seguir os comícios de José Sócrates (não fosse faltar assistência), aparentemente em troca de comida(!), seja a declaração lamentável de um alto responsável do PS referindo-se a Passos Coelho como “esse africanista de Massamá”, seja o despropositado mini-estádio que foi sendo montado e desmontado ao longo do país para os comícios do PS (Sócrates tem de facto uma paixão por estádios, ficou-lhe do Euro 2004...), seja ainda o número de vezes que o candidato José Sócrates desmentiu medidas que o Primeiro-ministro José Sócrates assinou, de cruz, no famoso memorando da Troika, … houve de tudo um pouco e, até diria que os episódios de Torres Vedras e do Algarve, nos quais houve contestação / marcação aos comícios do PS ficaram muito aquém da revolta e da tensão que se sente em relação a algumas políticas governamentais.

Hoje de manhã, num comentário radiofónico na Renascença, Luis Nazaré, esse grande gestor de empresas públicas monopolistas e entidades públicas por nomeação política, dizia que estava para ver como é que um “Governo da Direita” iria lidar com este tipo de grupos de pressão. Eu diria que não há nada para ver! O PSD não vai alterar nada, seja em relação a SCUT's, seja, talvez, em relação ao Ensino Privado, mas isso não inibe quem se sente descontente com as políticas do Governo, de o demonstrar, nem que seja à porta dos comícios do PS...

Houve também aspectos que nem sei classificar, se como estranhos ou como caricatos. Não vou voltar a falar da TSU (http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=1128&did=158578) mas, soube-se agora que, afinal, o Governo, enquanto todo o PS dizia que isso era irresponsável, se comprometeu, por carta enviada à Troika, a promover uma redução significativa daquela contribuição, compensando com um aumento do IVA!! Ou seja, aquilo que acusaram o PSD de querer fazer foi, no fundo, aquilo que às escondidas, já admitiram ter que fazer! Ainda no debate Sócrates-Passos o candidato socialista disse que “era para estudar”. Como é possível mentir tão descaradamente? Isto é apenas um exemplo... mas há outros. Ele fala do Serviço Nacional de Saúde como sendo o seu derradeiro defensor, mas sabe-se também que as taxas moderadoras vão aumentar e muitas isenções vão terminar. Ele acusa o PSD de querer liberalizar os despedimentos, mas sabe-se agora que o acordo com a Troika prevê a inclusão de motivos como a “inadaptação do trabalhador” na justa causa...

São tantas as vezes que Sócrates nega o inegável, ou melhor, os seus próprios actos, que eu até estou admirado de ainda não termos ouvido um qualquer galo cantar três vezes. Mas, por ventura, não haverá ocasião para o galo cantar... talvez seja já a ocasião para o famoso “canto do cisne”.

Domingo à noite tudo estará decidido ou, pelo menos, definido. Daqui até lá, já pouco falta. Mas falta o mais importante: que cada um de nós exerça, em consciência, o seu dever e direito cívico, votando.

A propósito da crise pela qual passa outro país-membro do Euro, a Grécia, e que nos deve servir de exemplo, uma vez que - se soubermos escolher um Governo corajoso, firme, compente e descomprometido com o passado – ainda vamos a tempo de evitar passar pelo mesmo, diria que no Domingo é preciso votar “com um olho no grego e o outro no cigano”!