terça-feira, 7 de junho de 2011

15 anos de História em três minutos

14 de Janeiro de 1996. Um dia trágico na história de Portugal. Lembra-se porquê? Sampaio venceu, nesse dia, Cavaco nas eleições presidenciais. Os títulos dos jornais no dia seguinte eram eloquentes “Portugal à esquerda”. Na capa, invariavelmente, o abraço que Guterres deu a Sampaio nessa noite, para o felicitar pela vitória.

Vem isto a propósito do facto de agora ser o PSD o partido que apoiou o Presidente da República, que há-de apoiar o próximo Governo e que há-de propor o nome do próximo presidente da Assembleia da República.

Há contudo algumas diferenças substanciais:

  • se em 1996 os mais altos cargos da nação foram para militantes do PS (Sampaio, Guterres e Almeida Santos), agora apenas um será ocupado por um militante do PSD: Pedro Passos Coelho, o presidente do Partido. Cavaco suspendeu a sua militância antes de se candidatar ao primeiro mandato como Presidente da República e Fernando Nobre, que pode ser o próximo Presidente do Parlamento (e, depois da campanha que fez, merece-o), não é, nem será, militante do PSD. Fica entendido que o PSD não tem a pretensão do poder absoluto. Ao contrário de outros...
  • Mas a diferença substancial não é essa. Alguém dizia ontém que agora, com um Presidente, uma maioria e um Governo, finalmente a Direita pode implementar o seu programa político. Nada disso, o próximo Governo vai implementar o Programa ao qual o país se vinculou pela mão do PS em consequência dos desvarios dos seus Governos. Então qual é a diferença entre 1996 e 2011? Muito simples. Em 1996 existia uma insignificante taxa de desemprego, a economia crescia, não havia problemas de finanças públicas, havia boas empresas para privatizar, registava-se euforia na Bolsa e Portugal estava apontado à adesão ao Euro. Agora há desemprego, há um défice medonho, já não há quase nada (que preste) para privatizar, a bolsa não tem liquidez e só não somos expulsos do Euro porque isso também teria consequências para o resto da Europa. Em '96 havia dinheiro para distribuir. Rui Rio referiu-se, numa das mais bem conseguidas expressões da campanha eleitoral, a “uma orgia de dinheiros públicos” durante os Governos Sócrates. Mas se com Sócrates houve orgias de dinheiros públicos, com Guterres começou, no mínimo, o festim. O rendimento mínimo garantido, as feijoadas na ponte, os estádios, em versão buffet, para o Euro 2004, a encomenda de três, que podiam ser quatro (!) submarinos… tudo resultado de uma nefasta coabitação Guterres – Sampaio entre 1996 e 2002.

Naturalmente, quando Durão Barroso chega ao Governo o país está de tanga. Mas, enquanto o Governo se esforçava por pôr ordem nas contas públicas o presidente Sampaio dava sinais contraditórios com o que devia ser um desígnio nacional, dizendo que “há vida para além do défice”. Eu, no lugar de Durão Barroso, também me teria ido embora...

Já dizia a canção, “dez anos é muito tempo”. E, de facto, foi muito tempo. Sampaio teve tempo para tudo: para pôr a mão por baixo dos Governos de Guterres entre 1996 e 2002, para queimar o Governo de coligação PSD/CDS entre 2002 e 2004 e, por último, na recta final, e antes de se ir embora, no fim de deixar o Partido Socialista arrumar a casa - leia-se “correr com Ferro Rodrigues” e o substituir pelo bem-falante deputado e comentador da RTP1 José Sócrates –, ajudou os seus camaradas a voltar ao poder.

Sampaio assinou o melhor discurso da última cerimónia do 25 de Abril. Foi o mais crítico e severo. Não poupou ninguém. Fico com a sensação que havia ali muito peso de consciência, até porque enquanto esteve em Belém nunca lhe vimos nenhuma intervenção mais crítica, exceptuando, claro está, quando se dirigia ao Governo PSD/CDS.
Porquê recordar isto agora? Porque tem que haver memória em política. E o PS costuma esquecer-se. O PS esqueceu-se de quem encomendou os submarinos (em 1998!), provavelmente, tomado por uma qualquer amnésia colectiva, agora vai-se esquecer que foi o seu Governo que negociou a ajuda externa com a troika, …

Eu sei que Ana Gomes é apenas uma militante socialista e que não fala pelo Partido e apenas se representa a ela própria e pouco mais... mas as violentas e insultuosas declarações que proferiu hoje em relação a Paulo Portas são vergonhosas para uma eurodeputada. Aliás, não conheço nenhum analfabeto que consiga falar de forma tão vil e soez. Independentemente de o PS estar, agora, à deriva, já devia ter aparecido um responsável, porque ainda os há, a demarcar-se, ou mais, a condenar este tipo de declarações ressabiadas que não trazem nada de bom à política nacional. O mau perder é uma coisa terrível e este tipo de declaração até pode anular o efeito do belíssimo discurso de despedida de Sócrates. Aliás, penso que o PS devia aproveitar esta ocasião para fazer uma profunda limpeza de balneário e mandar para casa alguns figurões que não fazem outra coisa que não comer da manjedoura pública (seja no Governo, seja no parlamento, seja em empresas públicas), alguns deles, há mais de trinta anos. Inscrevo na primeira linha Ana Gomes e José Lello, o tal que diz que o Presidente é foleiro. É bom que as cabecinhas pensantes que estão reunidas no Altis a esta hora reflictam bem. Se forem capazes... Finalmente, em política, começou-se a pagar pela língua. Querem um exemplo? O alentejano que chamou “africanista de Massamá” a Passos Coelho já teve a paga: o PS perdeu um deputado em Beja para o PSD, que não já elegia, por lá, ninguém desde 1995!

Termino subscrevendo as palavras de um dos mais brilhantes jornalistas económicos do nosso panorama: Camilo Lourenço. Ele dizia, hoje de manhã, que não tem respeito por governantes que não saibam o que é pagar um salário, que nunca tenham passado pelo papel de empregadores por sua conta. Normalmente esse é o perfil dos Governantes do PS: uma vezes no Governo, outras vezes no Parlamento, na oposição. Vir “cá para fora” para as empresas (as privadas) é que não! Dá muito trabalho e não é para qualquer um.

Eu, que também já vou sabendo o que é isso de pagar salários, também não tenho respeito por esse tipo de governantes, aliás, foram eles que nos trouxeram até aqui.