segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os bons ventos que sopram de Espanha!

A História tem tendência a repetir-se, ao contrário do que se costuma dizer. Lembro-me, como se fosse ontém, de ouvir José Maria Aznar num comício do PSD, em 2002, dizer para Durão Barroso, qualquer coisa do género: “ se te disserem que não é possível baixar os impostos, diminuir o défice público e criar emprego, diz-lhes que em Espanha uns amigos teus o conseguiram fazer”. Era um primeiro-ministro espanhol, já com seis anos de executivo que o dizia orgulhosamente. Vinha isto a propósito da promessa de Durão Barroso de promover um choque fiscal, baixando os impostos sobre o rendimento das empresas. Em 2002 a taxa de IRC era de 33%. Na altura, como agora, o PS dizia ser impossível. Para o PS, a ideia de descer impostos é de tal maneira repugnante e contra-natura que simplesmente eles não acreditam que isso seja possível. A verdade é que o IRC, durante o mandato desse Governo, do qual se tornou, entretanto, moda e politicamente correcto dizer mal, baixou mesmo para 25%. Nessa parte, o choque fiscal aconteceu, doa a quem doer!

Vem isto a propósito de duas coisas:

  • A primeira, a discussão recorrente de baixar ou não impostos. Passados 9 anos, Portugal, que estava, então, à beira do pântano, está agora à beira do precipício. A discussão agora é sobre baixar ou não a TSU. Não vou falar mais sobre isso, já disse o que tinha a dizer no anterior post. Agora, aproveito apenas para recordar que foi o tão criticado Governo de Barroso, Portas e Ferreira Leite o último a descer impostos às empresas, conforme havia prometido em Campanha Eleitoral.
  • O segundo aspecto está relacionado com a vizinha Espanha. Há claramente dois momentos históricos que explicam que um país que estava atrasado em relação a Portugal, nos tenha ultrapassado nestes 37 anos de democracia. O primeiro momento situa-se em 74-76, altura em que, em Portugal, alguns excessos revolucionários foram cometidos e ainda hoje se fazem sentir ao nível da competitividade. Não podemos esquecer que a Economia de Mercado só existe em Portugal após 1989 quando se iniciam as reprivatizações. O segundo momento decisivo foi na segunda metade da década de '90 e no início da década passada. Enquanto os espanhóis tiveram Aznar, nós tivémos... Azar. O nosso azar foram 16 anos de políticas erradas. Eu, abro um parentesis no período 2002-2004 por causa do aspecto que referi no início. Pelo menos nessa altura houve medidas que procuraram criar competitividade fiscal.

Falando ainda de Espanha, as notícias de hoje já só falam do retumbante desaire eleitoral de Zapatero. Usando a memória, que, em política é fundamental, eu direi que “quem com ferros mata...” Com que então, não podia haver manifestações no dia de reflexão? Quem disse? Estranho que a Comunicação Social, tão oportuna a fazer a registos de memória não tenha feito um paralelo com as eleições espanholas de há sete anos atrás. A uma semana das eleições gerais de 2004 o PP seguia liderante em todas as sondagens e o PSOE e o seu impreparado líder já preparavam a derrota. Até que os hediondos ataques terroristas de 11 de Março provocaram uma reviravolta eleitoral. O Governo de Aznar tentou ocultar aquilo que era evidente: a Al Qaeda tinha vingado a posição espanhola na cimeira das Lages, ajudando a subir ao poder um líder partidário cuja primeira promessa foi a retirada das tropas do Iraque e do Afeganistão. Em 2004 o dia de reflexão não existiu. Durante todo o dia houve manifestações contra o governo do PP e o resultado eleitoral sofreu naturalmente influências. Por isso, faltava agora ao Governo de Madrid autoridade para proibir manifestações.

Isto leva-me a concluir que a forma como se sobe ao poder tem muito a ver com o modo como, mais tarde, se acaba por ser apeado do mesmo...

Sigo com atenção o que se passa em Espanha, trabalhei muitos anos com espanhóis e ainda trabalho. É um povo que admiro... Nada tenho contra Zapatero, mas ele foi rápido a consumir a boa herança orçamental de Aznar, que lhe legou superávites. Andou sempre muito ocupado a colocar na agenda temas fracturantes na sociedade: casamentos entre pessoas do mesmo sexo (aí contagiou Sócrates), fez algumas afrontas gratuitas à Igreja, agitou espantalhos ligados ao franquismo em termos que já ninguém tem pachorra para ouvir falar, … e esqueceu-se da tão malfadada Economia e das pessoas. Ainda assim, em relação a Sócrates tem dois méritos: tomou atempadamente medidas restritivas, tendo evitado o colapso da dívida pública, e percebeu que era a sua hora de sair, tendo já anunciado que não é candidato em 2012. Nisto, o nosso Primeiro não soube copiar do vizinho.

Um amigo meu, Marcial Díaz, ganhou ontém uma autarquia, Buñol, na Comunidade Valenciana.

A ti Marcial, un abrazo muy fuerte, que lo mereces, macho!