Já agora, deixem-me só dizer o seguinte - antes que algum comentador bem pago o diga na televisão - o cenário pós-eleitoral grego deveria fazer, todos aqueles que defenderam, para Portugal, um "Governo de amplo apoio parlamentar", com o PSD, CDS-PP e PS, reconhecerem que estavam errados. E porquê? Porque está provado que os Governos de amplo apoio parlamentar dão nisto: a oposição deixa de estar no arco da governação, passa para partidos extremistas e chega-se onde os gregos chegaram - os eleitores revoltados com os dois principais partidos e que têm tradição governativa, optaram por partidos radicais à esquerda e à direita. Resultado: país ingovernável! Como é que eles chegaram aqui? Há meses atrás a Nova Democracia, partido do centro-direita grego, estando na oposição, tinha dos eu lado boa parte dos eleitores gregos. Após o flop de Papandreou, que quis convocar um referendo e depois voltou atrás, a ND foi para o Governo em coligação com o PASOK. Erro crasso: caiu em termos de popularidade e agora ganhou as eleições por uma baixíssima margem, não conseguindo formar Governo.
Isto também já por cá aconteceu, por alturas da última passagem do FMI: Governo de Bloco Central; Cavaco vai à Figueira fazer rodagem ao seu Citroen BX, acaba presidente do partido e dissolve a aliança com PS. Consequência, eleições antecipadas, o PS tem o seu mais baixo resultado de sempre, nas legislativas de '85, o PSD ganha, mas nem chega aos 30%, e tem de Governar em minoria. Para onde foram os votos dos desiludidos? Para o PRD. Sorte para Portugal, o PRD não era um partido radical, mas, curiosamente, foi quem fez cair o Governo de Cavaco, passados dois anos.
Moral da história, com aplicação nos dias de hoje, não tem que estar toda a gente no Governo para se implementarem medidas de rigor e reformas estruturais, o que é preciso é que haja sentido de Estado por parte dos que estão na oposição.
Que chatice... pareço ter melhor memória dos eventos de então que o próprio Mário Soares...
soldenovembro
Tantas vezes se fala apenas do que é óbvio, da chuva de novembro. Por que não falar antes do Sol?
quinta-feira, 10 de maio de 2012
De Merkozy para MerkOllande... ou quem sabe para MerDe... esperemos que não!
Relativamente às eleições francesas e o seu cruzamento com o que se está a passar na Grécia, há mais quem pense como eu.
Um artigo da autoria de Daniel Deusado no JN de hoje encaixa no meu anterior post.
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2508653&opiniao=Daniel%20Deusdado
Eu apenas acrescentaria que, das duas uma, ou a Europa alinha segundo um novo binómio de MerkOllande, e se transforma numa Merkolandia, ou alinha por um binómio MerDe. Entre um e outro, venho o diabo e escolha...
Um artigo da autoria de Daniel Deusado no JN de hoje encaixa no meu anterior post.
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2508653&opiniao=Daniel%20Deusdado
Eu apenas acrescentaria que, das duas uma, ou a Europa alinha segundo um novo binómio de MerkOllande, e se transforma numa Merkolandia, ou alinha por um binómio MerDe. Entre um e outro, venho o diabo e escolha...
segunda-feira, 7 de maio de 2012
A insustentável leveza da ilusão
Não quero ser desmancha-prazeres, mas
penso que dentro de alguns tempos, e provavelmente não daqui a
muito, recordaremos este fim-de-semana como um fim-de-semana negro
para a União Europeia e para o Euro, não tanto por causa das
eleições em França, mas sim pelas eleições gregas.
Devo dizer que considero que o
resultado das eleições francesas não é positivo nem negativo...
eu diría, é irrelevante, dadas as circunstâncias.
Naturalmente, Hollande ganhou porque
Sarkozy perdeu. E porque perdeu Sarkozy? Sarkozy perdeu pela mesma
razão que todos os anteriores chefes de Estado e de Governo que
foram a votos, desde o início da crise, perderam. Foi assim no Reino
Unido, em Portugal, em Espanha, na Dinamarca, na Irlanda, agora na
Grécia,... já se contam 11 mudanças de Governo desde o início da
crise. Só não houve mudança em Itália porque não houve eleições
após a saída Berlusconi e Merkkel continua porque ainda não foi a
votos... Por isso, nada de novo. Acho até o resultado de Sarkozy
surpreendentemente bom para um Presidente da República com uma
tamanha taxa de rejeição. Compreende-se por isso o seu apelo para
que os seus apoiantes não se separem e tentem obter o melhor
resultado possível nas próximas legislativas, essas, sim,
verdadeiramente determinantes já que podem confirmar a mudança à
esquerda ou, ao invés, uma coabitação entre Hollande e um Governo
de direita. Voltando ainda a Hollande, se é verdade que tinha tudo
para ganhar, pergunto se teria ganho ou não caso não tivesse cedido
ao populismo. Sim, ao populismo! Que nome se pode dar a alguém que
propõe contratar 60.000 funcionários públicos? Ou a alguém que
promete baixar a idade da reforma dos 62 para os 60 anos? Ou ainda
alguém que faz das políticas de crescimento o seu
cavalho-de-batalha, sem explicar onde vai buscar o dinheiro? Sim,
porque é muito fácil pedir políticas de crescimento... que fique
claro, eu também as quero e desejo! Mas onde vamos buscar o dinheiro
para elas? Os Estados não têm esse dinheiro – tirando a Alemanha,
que já disse que não muda nada do que está definido; o Banco
Central Europeu não financia os Estados, porque não pode; o Banco
Europeu de Investimentos apoia sobretudo obras públicas, que os
Estados não têm dinheiro para co-financiar; os investidores
internacionais não parecem estar muito interessados, exceptuando a
China! Então, como se faz isto? Aumentando os impostos? Lindo!
Por tudo isto, não dou muito crédito
à vitória de Hollande e acho que mais tarde ou mais cedo vai
desdizer tudo o que prometeu. Quando? É só ver os juros da dívida
pública francesa a subirem e vão ver como ele se converte num
adepto da austeridade!
Por isso, desenganem-se os socialistas
portugueses e do mundo. Não vem aí nenhuma nova ordem mundial após
a vitória de Hollande. Aliás, chega a ser ridícula e provinciana a
atitude dos socialistas todos ufanos por causa das eleições
francesas. Alguém viu a direita portuguesa a fazer figas por
Berlusconi, Cameron ou Sarkozy? Mas, pronto, os socialistas têm esta
visão maniqueista: o que é socialista é sempre bom; o que é de
direita é horrível, péssimo, …
Por falar em socialistas, o PASOK,
partido socialista grego é agora a terceira força partidária na
Grécia. Isso, para mim, não é motivo de alegria. Aliás, as
eleições da Grécia prometem ter consequências muito mais graves
que as francesas. Parece impossível fazer uma coligação de forças
pró-europeístas comprometidas com a Pacto de Assistência
Financeira, o que não augura boas perspectivas para o futuro da
Grécia, que se volta a aproximar do abismo.
Para nós portugueses isto é tudo
aquilo que nós não precisavamos. Se a Grécia cair, as atenções
viram-se novamente para nós. Com a Espanha sobre brasas, o nosso
caminho é muito estreito.
É por isso necessária firmeza e
determinação. Não posso deixar de lamentar as declarações de
Mário Soares quando defende que o PS tem que cortar com a Troika.
Para fazer o quê? Qual é a alternativa? Ir atrás de Hollande?
Acabo a falar de quem falei no início.
Sarkozy foi o primeiro Presidente francês, desde 1981, a não
conseguir ser reeleito, com a agravante de, no passado, os mandatos
presidenciais serem de sete anos, inclusive o de Giscard D'Estaing, o
último a não conseguir ser reeleito. Por isso, foi o presidente
mais efémero da história recente francesa. Há quem lhe aponte o
excessivo protagonismo, o que é um facto: com Sarkozy a figura do
primeiro-ministro perdeu peso e influência, levando-se ao extremo o
semi-presidencialismo francês.
Moral da história: a política não é
para quem procura protagonismo, mas sim para quem apresenta
resultados!
sábado, 21 de janeiro de 2012
O mais alto cargo da nação em regime de voluntariado...
OK, eu sei que sou suspeito. Eu confesso... sou um cavaquista! Está feita a minha a declaração de interesses. Vamos a isto.
Hoje faço uma reflexão que já há algum tempo estou para fazer aqui e que acaba por ser precipitada pela polémica em torno dos rendimentos do Presidente da República.
José Sócrates, no seu fervor e afã moralista (a moral era para os outros, para ele, era o que se sabe...) determinou que não seria possível acumular rendimentos de pensões com rendimentos provenientes do exercício de cargos políticos. No máximo poderia continuar a receber a sua pensão e passar a receber apenas um terço do vencimento ou vice-versa.
Como, em Portugal. as pessoas têm medo de falar com a Segurança Social, com a CGA e transpiram e tremem de medo quando têm algum assunto a tratar com estes, para evitar males maiores, os reformados ainda no activo optaram por não mexer nas suas pensões (não fosse o diabo tecê-las) e optaram por abdicar de dois terços do seu vencimento. Passámos então a constatar situações ridículas, como aquela que se registava na Câmara de Alcobaça no mandato anterior, em que o então Presidente da Câmara, recebendo apenas um terço do vencimento, auferia um salário inferior ao de qualquer técnico superior daquela entidade. É verdade que eu sei, todos deviamos saber, que não é o dinheiro que move estas pessoas. Ao contrário do que o povão diz nas conversas de café e nas manifs de indignados, nem todos os políticos estão na política por dinheiro. Mais, criou-se e está-se a criar um clima de bisbilhotice e hiper-escrutínio que, a prazo, e não muito longo, só os incapazes e os incompetentes estarão disponíveis para exercer cargos políticos. Pessoas com alguma ambição e capacidade não estarão disponíveis para ter que expor toda a sua vida pessoal e financeira a troco de dos vencimentos que se pagam à classe política. É verdade que há muito quem aufira rendimentos, no exercício de cargos políticos, que vão muito para além daquilo que qualquer empregador privado lhe pagaria...mas também é verdade que há muitos que não estão disponíveis para o exercício de cargos políticos, pela questão dos rendimentos.
É verdade que o país é pobre e que não pode sustentar mordomias, mas também é verdade que se quisermos nivelar a classe política por baixo, fazendo o discurso dos desgraçadinhos, também não vamos a lado nenhum.
O caso do Presidente da República, então, é paradigmático. Já nos tínhamos apercebido há algum tempo atrás que Maria Cavaco Silva auferia uma pensão de oitocentos euro. Na altura já houve quem achasse que era uma belíssima pensão... eu, como conheço "n" professoras reformadas com pensões na ordem dos dois mil euro, pensei cá para mim "que defeito é que tem a mulher do Presidente?". Por ventura, tem o "defeito" de ter acompanhado o marido nos dez anos de governação entre '85 e '95. Esse trabalho terá sido inútil?
Agora, mais recentemente, ficámos a saber pela boca do próprio (do Presidente) qual o seu nível de rendimentos. E devo dizer que, para um qualquer democrata (independentemente de republicano ou não), este foi um momento deplorável e decadente para a Nação. O mais alto magistrado da Nação ter que justificar perante os jornalistas quanto ganha, ou não ganha, é deplorável.
Quando Cavaco diz que "mal dá para pagar as contas", sendo uma metáfora, não andará longe da realidade. O nosso povão, ignorante, invejoso, vem logo com o discurso dos pensionistas dos trezentos euro. Não dizem que esses pensionistas, muitos deles, nunca contribuiram com um tostão para qualquer sistema de pensões... O povão ignorante e invejoso, desconhece, ou não quer saber, que o Presidente da República tinha direito a viver com a sua família no Palácio de Belém, como fizeram, antes de si, Ramalho Eanes e Mário Soares. Poderia fazê-lo e mandar cortar a água e a luz e outros na Travessa do Possoulo, onde vive. Ao tomar esta opção, fá-lo porque quer, mas poupa dinheiro ao erário público... O povão ignorante e invejoso nem sequer se questiona se uma monarquia não saíria muito mais cara que o actual regime.
A mim, que não morro nem me deixo afectar pelo mal de inveja, e que defendo a existência de uma classe política qualificada e com remunerações justas, perturba-me que a Presidência da República se tenha tornado num exercício de voluntariado. E que o povo (aqui já não é só o povão) ache que isso é bem, é normal e que tem que ser assim!
De certa forma, isto também é representativo da situação à qual o país chegou.
Hoje faço uma reflexão que já há algum tempo estou para fazer aqui e que acaba por ser precipitada pela polémica em torno dos rendimentos do Presidente da República.
José Sócrates, no seu fervor e afã moralista (a moral era para os outros, para ele, era o que se sabe...) determinou que não seria possível acumular rendimentos de pensões com rendimentos provenientes do exercício de cargos políticos. No máximo poderia continuar a receber a sua pensão e passar a receber apenas um terço do vencimento ou vice-versa.
Como, em Portugal. as pessoas têm medo de falar com a Segurança Social, com a CGA e transpiram e tremem de medo quando têm algum assunto a tratar com estes, para evitar males maiores, os reformados ainda no activo optaram por não mexer nas suas pensões (não fosse o diabo tecê-las) e optaram por abdicar de dois terços do seu vencimento. Passámos então a constatar situações ridículas, como aquela que se registava na Câmara de Alcobaça no mandato anterior, em que o então Presidente da Câmara, recebendo apenas um terço do vencimento, auferia um salário inferior ao de qualquer técnico superior daquela entidade. É verdade que eu sei, todos deviamos saber, que não é o dinheiro que move estas pessoas. Ao contrário do que o povão diz nas conversas de café e nas manifs de indignados, nem todos os políticos estão na política por dinheiro. Mais, criou-se e está-se a criar um clima de bisbilhotice e hiper-escrutínio que, a prazo, e não muito longo, só os incapazes e os incompetentes estarão disponíveis para exercer cargos políticos. Pessoas com alguma ambição e capacidade não estarão disponíveis para ter que expor toda a sua vida pessoal e financeira a troco de dos vencimentos que se pagam à classe política. É verdade que há muito quem aufira rendimentos, no exercício de cargos políticos, que vão muito para além daquilo que qualquer empregador privado lhe pagaria...mas também é verdade que há muitos que não estão disponíveis para o exercício de cargos políticos, pela questão dos rendimentos.
É verdade que o país é pobre e que não pode sustentar mordomias, mas também é verdade que se quisermos nivelar a classe política por baixo, fazendo o discurso dos desgraçadinhos, também não vamos a lado nenhum.
O caso do Presidente da República, então, é paradigmático. Já nos tínhamos apercebido há algum tempo atrás que Maria Cavaco Silva auferia uma pensão de oitocentos euro. Na altura já houve quem achasse que era uma belíssima pensão... eu, como conheço "n" professoras reformadas com pensões na ordem dos dois mil euro, pensei cá para mim "que defeito é que tem a mulher do Presidente?". Por ventura, tem o "defeito" de ter acompanhado o marido nos dez anos de governação entre '85 e '95. Esse trabalho terá sido inútil?
Agora, mais recentemente, ficámos a saber pela boca do próprio (do Presidente) qual o seu nível de rendimentos. E devo dizer que, para um qualquer democrata (independentemente de republicano ou não), este foi um momento deplorável e decadente para a Nação. O mais alto magistrado da Nação ter que justificar perante os jornalistas quanto ganha, ou não ganha, é deplorável.
Quando Cavaco diz que "mal dá para pagar as contas", sendo uma metáfora, não andará longe da realidade. O nosso povão, ignorante, invejoso, vem logo com o discurso dos pensionistas dos trezentos euro. Não dizem que esses pensionistas, muitos deles, nunca contribuiram com um tostão para qualquer sistema de pensões... O povão ignorante e invejoso, desconhece, ou não quer saber, que o Presidente da República tinha direito a viver com a sua família no Palácio de Belém, como fizeram, antes de si, Ramalho Eanes e Mário Soares. Poderia fazê-lo e mandar cortar a água e a luz e outros na Travessa do Possoulo, onde vive. Ao tomar esta opção, fá-lo porque quer, mas poupa dinheiro ao erário público... O povão ignorante e invejoso nem sequer se questiona se uma monarquia não saíria muito mais cara que o actual regime.
A mim, que não morro nem me deixo afectar pelo mal de inveja, e que defendo a existência de uma classe política qualificada e com remunerações justas, perturba-me que a Presidência da República se tenha tornado num exercício de voluntariado. E que o povo (aqui já não é só o povão) ache que isso é bem, é normal e que tem que ser assim!
De certa forma, isto também é representativo da situação à qual o país chegou.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Da harmonização fiscal aos tachos, passando pelas ratazanas...
Agora, finalmente, já toda a gente fala de harmonização fiscal. "Casa roubada, trancas à porta" já diz o ditado.
Já o referi aqui muitas vezes, a Europa nunca deveria ter deixado cair o objectivo de convergir nos sistemas fiscais.
Simplesmente, após Maastricht, os líderes europeus convenceram-se que a harmonização fiscal já não era necessária, e deixando os Governos Nacionais e os Bancos Centrais de dispor de duas ferramentas fundamentais de política macro-económica: a política monetária e a política cambial, foi entendimento geral, de certa forma, apenas implícito, que se devia deixar alguma liberdade aos executivos nacionais em matéria fiscal.
Ora isto tem sido uma das razões e das origens para a desgraça em que nos encontramos. A impunidade tem imperado. Sucessivos Governos e Ministros têm feito o que (não) podem para ficar na história. Um faz uma ponte, o outro faz um aeroporto, o outro faz um TGV, um faz uma exposição universal, vem o outro e candidata-se a um Europeu de Futebol... têm-se feito muitas obras megalómanas e desnecessárias, mas no fim de contas, quem paga é sempre o mesmo: o contribuinte.
Assim, tem sido muito fácil governar o país: quando falta dinheiro, o que se faz? Reduz-se a despesa? Não! Quer ideia essa... Aumentam-se os impostos, claro! Vai-se acomodando a receita necessária à despesa superveniente e...pronto! Houvesse uma real harmonização fiscal à escala europeu e Durão Barroso não teria aumentado o IVA de 17 para 19%. Sócrates não o teria aumentado de 19 para 21% e, depois, de 21 para 23%. Ambos ter-se-íam visto na contingência de cortar a sério na despesa, em vez de angariar mais receita.
Bom, nada disso aconteceu e, pior que isso, como os nossos parceiros europeus, à excepção da Hungria que passou o seu IVA de 25 para 27%, não mexeram significativamente nos seus impostos, nós fomos perdendo competitividade.
É por isso, pelo dumping fiscal da Irlanda, pela concorrência holandesa, ... que a pouco e pouco muitas das maiores empresas portuguesas, 19 das 20 do PSI, se foram mudando para o estrangeiro.
A família Soares Van der Santos (penso que é assim que se vão passar a chamar) é apenas mais uma das emigrantes de luxo... de pouco ou nada serve apelar a boicotes, se formos fazer as compras a outros que, ou são estrangeiros, ou, sendo portugueses, também já mudaram sedes sociais para o estrangeiro...
Por isso digo, ainda bem que temos o comércio tradicional detido pelos vizinhos que não nos abandonam e que, connosco, vão carregando a pesada cruz fiscal até ao monte das oliveiras.
O que leva uma empresa ou uma família a renegar o seu país não é tão pouco a luta pela sobrevivência, ou a vontade de salvaguardar o seu património: é apenas a ganância, essa nova bússola do capitalismo.
O comércio tradicional só tem um defeito... se quisermos comprar panelas e tachos, não tem... quem quiser arranjar bons tachos, ou tachos dos bons, só nas lojas maçónicas. Aí, sim é garantido... Têm dúvidas?
Já o referi aqui muitas vezes, a Europa nunca deveria ter deixado cair o objectivo de convergir nos sistemas fiscais.
Simplesmente, após Maastricht, os líderes europeus convenceram-se que a harmonização fiscal já não era necessária, e deixando os Governos Nacionais e os Bancos Centrais de dispor de duas ferramentas fundamentais de política macro-económica: a política monetária e a política cambial, foi entendimento geral, de certa forma, apenas implícito, que se devia deixar alguma liberdade aos executivos nacionais em matéria fiscal.
Ora isto tem sido uma das razões e das origens para a desgraça em que nos encontramos. A impunidade tem imperado. Sucessivos Governos e Ministros têm feito o que (não) podem para ficar na história. Um faz uma ponte, o outro faz um aeroporto, o outro faz um TGV, um faz uma exposição universal, vem o outro e candidata-se a um Europeu de Futebol... têm-se feito muitas obras megalómanas e desnecessárias, mas no fim de contas, quem paga é sempre o mesmo: o contribuinte.
Assim, tem sido muito fácil governar o país: quando falta dinheiro, o que se faz? Reduz-se a despesa? Não! Quer ideia essa... Aumentam-se os impostos, claro! Vai-se acomodando a receita necessária à despesa superveniente e...pronto! Houvesse uma real harmonização fiscal à escala europeu e Durão Barroso não teria aumentado o IVA de 17 para 19%. Sócrates não o teria aumentado de 19 para 21% e, depois, de 21 para 23%. Ambos ter-se-íam visto na contingência de cortar a sério na despesa, em vez de angariar mais receita.
Bom, nada disso aconteceu e, pior que isso, como os nossos parceiros europeus, à excepção da Hungria que passou o seu IVA de 25 para 27%, não mexeram significativamente nos seus impostos, nós fomos perdendo competitividade.
É por isso, pelo dumping fiscal da Irlanda, pela concorrência holandesa, ... que a pouco e pouco muitas das maiores empresas portuguesas, 19 das 20 do PSI, se foram mudando para o estrangeiro.
A família Soares Van der Santos (penso que é assim que se vão passar a chamar) é apenas mais uma das emigrantes de luxo... de pouco ou nada serve apelar a boicotes, se formos fazer as compras a outros que, ou são estrangeiros, ou, sendo portugueses, também já mudaram sedes sociais para o estrangeiro...
Por isso digo, ainda bem que temos o comércio tradicional detido pelos vizinhos que não nos abandonam e que, connosco, vão carregando a pesada cruz fiscal até ao monte das oliveiras.
O que leva uma empresa ou uma família a renegar o seu país não é tão pouco a luta pela sobrevivência, ou a vontade de salvaguardar o seu património: é apenas a ganância, essa nova bússola do capitalismo.
O comércio tradicional só tem um defeito... se quisermos comprar panelas e tachos, não tem... quem quiser arranjar bons tachos, ou tachos dos bons, só nas lojas maçónicas. Aí, sim é garantido... Têm dúvidas?
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Países Baixos, impostos baixos, altas fugas...
Tem feito correr muita tinta a deslocalização fiscal da família Soares dos Santos para a Holanda.
Há que ter cautela, contudo, com algumas reacções encarniçadas que têm pouco de sério e que facilmente caem na contradição.
O editorial de Pedro Santos Guerreiro na edição de ontém do Jornal de Negócios http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=529417&pn=1 parece-me um exercício de grande honestidade intelectual.
Só tenho a apontar uma falha, ou melhor, uma discordância. Eu não vou nessa conversa de que esta deslocalização tem em vista aceder a financiamentos em condições mais competitivas na Holanda.
Eu, que já trabalhei uns anos em análise de risco na Banca, imaginei de pronto uma reunião entre a família Soares dos Santos e um qualquer banco holandês:
"Banco - então os senhores gostariam de receber uma proposta de financiamento por parte da nossa instituição, certo?
Soares dos Santos - sim, percebemos que os senhores poderão apresentar-nos uma proposta competitiva...
Banco - ainda não percebemos muito bem... afinal o que faz o vosso grupo?
Soares dos Santos - actuamos em vários sectores, mas o principal é o da distribuição!
Banco - ah... muito bem! Então, e quantas lojas têm ou vão abrir aqui na Holanda?
Soares dos Santos - nós não vamos abrir qualquer loja na Holanda. Vamos fazê-lo na Polónia e na Colômbia!"
O banqueiro olha embasbacado, pensando nesta chico-espertice "tuga" e, com vontade de os mandar ir pedir os financiamentos na Polónia ou na Colômbia, abre o seu mais amarelado sorriso possível interrogando-se: "então e se a coisa corre mal na Colômbia, nós agarramo-nos a quê? Aos cabelos da Shakira?"
Esta desculpa do acesso aos financiamentos... tem muito que se lhe diga. O poder negocial de um grupo económico tem pouco que ver com a localização da sua sede. Ao invés, tem tudo a ver com a localização das suas operações.
Há que ter cautela, contudo, com algumas reacções encarniçadas que têm pouco de sério e que facilmente caem na contradição.
O editorial de Pedro Santos Guerreiro na edição de ontém do Jornal de Negócios http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=529417&pn=1 parece-me um exercício de grande honestidade intelectual.
Só tenho a apontar uma falha, ou melhor, uma discordância. Eu não vou nessa conversa de que esta deslocalização tem em vista aceder a financiamentos em condições mais competitivas na Holanda.
Eu, que já trabalhei uns anos em análise de risco na Banca, imaginei de pronto uma reunião entre a família Soares dos Santos e um qualquer banco holandês:
"Banco - então os senhores gostariam de receber uma proposta de financiamento por parte da nossa instituição, certo?
Soares dos Santos - sim, percebemos que os senhores poderão apresentar-nos uma proposta competitiva...
Banco - ainda não percebemos muito bem... afinal o que faz o vosso grupo?
Soares dos Santos - actuamos em vários sectores, mas o principal é o da distribuição!
Banco - ah... muito bem! Então, e quantas lojas têm ou vão abrir aqui na Holanda?
Soares dos Santos - nós não vamos abrir qualquer loja na Holanda. Vamos fazê-lo na Polónia e na Colômbia!"
O banqueiro olha embasbacado, pensando nesta chico-espertice "tuga" e, com vontade de os mandar ir pedir os financiamentos na Polónia ou na Colômbia, abre o seu mais amarelado sorriso possível interrogando-se: "então e se a coisa corre mal na Colômbia, nós agarramo-nos a quê? Aos cabelos da Shakira?"
Esta desculpa do acesso aos financiamentos... tem muito que se lhe diga. O poder negocial de um grupo económico tem pouco que ver com a localização da sua sede. Ao invés, tem tudo a ver com a localização das suas operações.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
O mundo ao contrário...
Uma das coisas boas do Natal são as músicas de Natal! Elas enchem o ar com uma atmosfera positiva que preenche o nosso espírito de coisas boas... Já os anúncios de Natal são uma das piores coisas da época. Ou porque são gritados e agressivos ou porque são de um perfeito non-sense que fere a inteligência humana. A mim irrita-me solenemente uma campanha publicitária de uma operadora móvel, de tão "chanfalheiro" que é o seu anúncio. "All together now"... as pessoas não o saberão, eu aprendi-o com um band britânica, os The Farm, já lá vão vinte anos, faz uma alusão a um dia de tréguas, no dia de Natal de 1914, quando em plenas trincheiras da 1ª Grande Guerra Mundial, tropas de ambos os lados se encontraram na "no man's land" para trocar presentes e jogar à bola. Bonito... sem dúvida! E não é lenda. Custa-me ver um tema bonito gritado a altos berros ao ponto de ferir os ouvidos. Mas, pior do que isso é quando vejo que, no âmbito de uns ditos, duetos improváveis, me aparece Vitorino a cantar em inglês!! Ora, vejam lá que um dos artistas mais tradicionais e que mais se tem oposto à presença de música anglo-saxónica nas play-lists das rádios nacionais, ele próprio, a troco do vil metal, também já canta em inglês. As coisas que o dinheiro faz à cabeça das pessoas....
Mas, nesta coisa de linguas estrangeiras há quem queira estar sempre um passo à frente. E, vai daí, eis que já surgem pais que, indo para além das preocupações socráticas - que determinaram aulas de inglês para crianças que ainda não escrevem nem leem português, no 1º ciclo do ensino básico, logo no 1º ano de escolaridade - já põem os meninos a aprender chinês, porque "O Chinês é o futuro"!! Em tempo de Natal, deixem-me que diga "perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem".
Esta submissão antecipada a um império que, antes de o ser, já está a começar de deixar de o ser, é um sinónimo de irracionalidade humana. Estamos, de facto, num novo tempo. Antigamente, os grandes impérios: Egipto, Grécia, Roma, Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra, EUA, ... eram, em cada um desses momentos históricos, os locais onde melhor se vivia no Mundo. Agora assistimos ao nascimento de um império baseado na opressão, na miséria, na exploração, na falta de direitos humanos e dos trabalhadores... e que fazemos nós, europeus? Incapazes de esboçar uma reacção, que passe por defender o nosso passado civilizacional e cultural, já estamos a estender a passadeira vermelha (bem a propósito, o vermelho!). Não tarda muito, vão querer que, em vez do nosso calendário, passemos a usar o chinês e, já agora, vamos mandar fora os computadores e teclados "qwerty", ou não, e vamos aprender a desenhar caracteres chinocas...
O que estou a dizer tem pouco a ver com a privatização da EDP, perdão, re-nacionalização da EDP! Sim, porque o que era nacional passou a ser estrangeiro, mas detido por um Estado estrangeiro, logo é uma nova nacionalização. Em relação a este negócio pouco ou nada tenho dizer porque o desconheço nos seus contornos, mas não deixo de ficar perplexo com a notícia publicada no Financial Times que diz que "Portugal teve sorte em vender 21% da EDP e receber o valor de 50%". O mesmo artigo diz que o negócio foi uma pechincha para os chineses.... Afinal, em que ficamos?
Bem, voltando, aos que já se apressam a estudar chinês, tenho para eles uma notícia: está a surgir uma nova grande potência mundial, também alavancada num enorme crescimento populacional e numa exploração de trabalhadores que ultrapassa a chinesa: a India! E, já agora, na India fala-se Inglês! Afinal, Sócrates tinha razão...
Mas, nesta coisa de linguas estrangeiras há quem queira estar sempre um passo à frente. E, vai daí, eis que já surgem pais que, indo para além das preocupações socráticas - que determinaram aulas de inglês para crianças que ainda não escrevem nem leem português, no 1º ciclo do ensino básico, logo no 1º ano de escolaridade - já põem os meninos a aprender chinês, porque "O Chinês é o futuro"!! Em tempo de Natal, deixem-me que diga "perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem".
Esta submissão antecipada a um império que, antes de o ser, já está a começar de deixar de o ser, é um sinónimo de irracionalidade humana. Estamos, de facto, num novo tempo. Antigamente, os grandes impérios: Egipto, Grécia, Roma, Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra, EUA, ... eram, em cada um desses momentos históricos, os locais onde melhor se vivia no Mundo. Agora assistimos ao nascimento de um império baseado na opressão, na miséria, na exploração, na falta de direitos humanos e dos trabalhadores... e que fazemos nós, europeus? Incapazes de esboçar uma reacção, que passe por defender o nosso passado civilizacional e cultural, já estamos a estender a passadeira vermelha (bem a propósito, o vermelho!). Não tarda muito, vão querer que, em vez do nosso calendário, passemos a usar o chinês e, já agora, vamos mandar fora os computadores e teclados "qwerty", ou não, e vamos aprender a desenhar caracteres chinocas...
O que estou a dizer tem pouco a ver com a privatização da EDP, perdão, re-nacionalização da EDP! Sim, porque o que era nacional passou a ser estrangeiro, mas detido por um Estado estrangeiro, logo é uma nova nacionalização. Em relação a este negócio pouco ou nada tenho dizer porque o desconheço nos seus contornos, mas não deixo de ficar perplexo com a notícia publicada no Financial Times que diz que "Portugal teve sorte em vender 21% da EDP e receber o valor de 50%". O mesmo artigo diz que o negócio foi uma pechincha para os chineses.... Afinal, em que ficamos?
Bem, voltando, aos que já se apressam a estudar chinês, tenho para eles uma notícia: está a surgir uma nova grande potência mundial, também alavancada num enorme crescimento populacional e numa exploração de trabalhadores que ultrapassa a chinesa: a India! E, já agora, na India fala-se Inglês! Afinal, Sócrates tinha razão...
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