segunda-feira, 7 de maio de 2012

A insustentável leveza da ilusão


Não quero ser desmancha-prazeres, mas penso que dentro de alguns tempos, e provavelmente não daqui a muito, recordaremos este fim-de-semana como um fim-de-semana negro para a União Europeia e para o Euro, não tanto por causa das eleições em França, mas sim pelas eleições gregas.

Devo dizer que considero que o resultado das eleições francesas não é positivo nem negativo... eu diría, é irrelevante, dadas as circunstâncias.

Naturalmente, Hollande ganhou porque Sarkozy perdeu. E porque perdeu Sarkozy? Sarkozy perdeu pela mesma razão que todos os anteriores chefes de Estado e de Governo que foram a votos, desde o início da crise, perderam. Foi assim no Reino Unido, em Portugal, em Espanha, na Dinamarca, na Irlanda, agora na Grécia,... já se contam 11 mudanças de Governo desde o início da crise. Só não houve mudança em Itália porque não houve eleições após a saída Berlusconi e Merkkel continua porque ainda não foi a votos... Por isso, nada de novo. Acho até o resultado de Sarkozy surpreendentemente bom para um Presidente da República com uma tamanha taxa de rejeição. Compreende-se por isso o seu apelo para que os seus apoiantes não se separem e tentem obter o melhor resultado possível nas próximas legislativas, essas, sim, verdadeiramente determinantes já que podem confirmar a mudança à esquerda ou, ao invés, uma coabitação entre Hollande e um Governo de direita. Voltando ainda a Hollande, se é verdade que tinha tudo para ganhar, pergunto se teria ganho ou não caso não tivesse cedido ao populismo. Sim, ao populismo! Que nome se pode dar a alguém que propõe contratar 60.000 funcionários públicos? Ou a alguém que promete baixar a idade da reforma dos 62 para os 60 anos? Ou ainda alguém que faz das políticas de crescimento o seu cavalho-de-batalha, sem explicar onde vai buscar o dinheiro? Sim, porque é muito fácil pedir políticas de crescimento... que fique claro, eu também as quero e desejo! Mas onde vamos buscar o dinheiro para elas? Os Estados não têm esse dinheiro – tirando a Alemanha, que já disse que não muda nada do que está definido; o Banco Central Europeu não financia os Estados, porque não pode; o Banco Europeu de Investimentos apoia sobretudo obras públicas, que os Estados não têm dinheiro para co-financiar; os investidores internacionais não parecem estar muito interessados, exceptuando a China! Então, como se faz isto? Aumentando os impostos? Lindo!

Por tudo isto, não dou muito crédito à vitória de Hollande e acho que mais tarde ou mais cedo vai desdizer tudo o que prometeu. Quando? É só ver os juros da dívida pública francesa a subirem e vão ver como ele se converte num adepto da austeridade!

Por isso, desenganem-se os socialistas portugueses e do mundo. Não vem aí nenhuma nova ordem mundial após a vitória de Hollande. Aliás, chega a ser ridícula e provinciana a atitude dos socialistas todos ufanos por causa das eleições francesas. Alguém viu a direita portuguesa a fazer figas por Berlusconi, Cameron ou Sarkozy? Mas, pronto, os socialistas têm esta visão maniqueista: o que é socialista é sempre bom; o que é de direita é horrível, péssimo, …

Por falar em socialistas, o PASOK, partido socialista grego é agora a terceira força partidária na Grécia. Isso, para mim, não é motivo de alegria. Aliás, as eleições da Grécia prometem ter consequências muito mais graves que as francesas. Parece impossível fazer uma coligação de forças pró-europeístas comprometidas com a Pacto de Assistência Financeira, o que não augura boas perspectivas para o futuro da Grécia, que se volta a aproximar do abismo.

Para nós portugueses isto é tudo aquilo que nós não precisavamos. Se a Grécia cair, as atenções viram-se novamente para nós. Com a Espanha sobre brasas, o nosso caminho é muito estreito.

É por isso necessária firmeza e determinação. Não posso deixar de lamentar as declarações de Mário Soares quando defende que o PS tem que cortar com a Troika. Para fazer o quê? Qual é a alternativa? Ir atrás de Hollande?

Acabo a falar de quem falei no início. Sarkozy foi o primeiro Presidente francês, desde 1981, a não conseguir ser reeleito, com a agravante de, no passado, os mandatos presidenciais serem de sete anos, inclusive o de Giscard D'Estaing, o último a não conseguir ser reeleito. Por isso, foi o presidente mais efémero da história recente francesa. Há quem lhe aponte o excessivo protagonismo, o que é um facto: com Sarkozy a figura do primeiro-ministro perdeu peso e influência, levando-se ao extremo o semi-presidencialismo francês.

Moral da história: a política não é para quem procura protagonismo, mas sim para quem apresenta resultados!