Não quero ser desmancha-prazeres, mas
penso que dentro de alguns tempos, e provavelmente não daqui a
muito, recordaremos este fim-de-semana como um fim-de-semana negro
para a União Europeia e para o Euro, não tanto por causa das
eleições em França, mas sim pelas eleições gregas.
Devo dizer que considero que o
resultado das eleições francesas não é positivo nem negativo...
eu diría, é irrelevante, dadas as circunstâncias.
Naturalmente, Hollande ganhou porque
Sarkozy perdeu. E porque perdeu Sarkozy? Sarkozy perdeu pela mesma
razão que todos os anteriores chefes de Estado e de Governo que
foram a votos, desde o início da crise, perderam. Foi assim no Reino
Unido, em Portugal, em Espanha, na Dinamarca, na Irlanda, agora na
Grécia,... já se contam 11 mudanças de Governo desde o início da
crise. Só não houve mudança em Itália porque não houve eleições
após a saída Berlusconi e Merkkel continua porque ainda não foi a
votos... Por isso, nada de novo. Acho até o resultado de Sarkozy
surpreendentemente bom para um Presidente da República com uma
tamanha taxa de rejeição. Compreende-se por isso o seu apelo para
que os seus apoiantes não se separem e tentem obter o melhor
resultado possível nas próximas legislativas, essas, sim,
verdadeiramente determinantes já que podem confirmar a mudança à
esquerda ou, ao invés, uma coabitação entre Hollande e um Governo
de direita. Voltando ainda a Hollande, se é verdade que tinha tudo
para ganhar, pergunto se teria ganho ou não caso não tivesse cedido
ao populismo. Sim, ao populismo! Que nome se pode dar a alguém que
propõe contratar 60.000 funcionários públicos? Ou a alguém que
promete baixar a idade da reforma dos 62 para os 60 anos? Ou ainda
alguém que faz das políticas de crescimento o seu
cavalho-de-batalha, sem explicar onde vai buscar o dinheiro? Sim,
porque é muito fácil pedir políticas de crescimento... que fique
claro, eu também as quero e desejo! Mas onde vamos buscar o dinheiro
para elas? Os Estados não têm esse dinheiro – tirando a Alemanha,
que já disse que não muda nada do que está definido; o Banco
Central Europeu não financia os Estados, porque não pode; o Banco
Europeu de Investimentos apoia sobretudo obras públicas, que os
Estados não têm dinheiro para co-financiar; os investidores
internacionais não parecem estar muito interessados, exceptuando a
China! Então, como se faz isto? Aumentando os impostos? Lindo!
Por tudo isto, não dou muito crédito
à vitória de Hollande e acho que mais tarde ou mais cedo vai
desdizer tudo o que prometeu. Quando? É só ver os juros da dívida
pública francesa a subirem e vão ver como ele se converte num
adepto da austeridade!
Por isso, desenganem-se os socialistas
portugueses e do mundo. Não vem aí nenhuma nova ordem mundial após
a vitória de Hollande. Aliás, chega a ser ridícula e provinciana a
atitude dos socialistas todos ufanos por causa das eleições
francesas. Alguém viu a direita portuguesa a fazer figas por
Berlusconi, Cameron ou Sarkozy? Mas, pronto, os socialistas têm esta
visão maniqueista: o que é socialista é sempre bom; o que é de
direita é horrível, péssimo, …
Por falar em socialistas, o PASOK,
partido socialista grego é agora a terceira força partidária na
Grécia. Isso, para mim, não é motivo de alegria. Aliás, as
eleições da Grécia prometem ter consequências muito mais graves
que as francesas. Parece impossível fazer uma coligação de forças
pró-europeístas comprometidas com a Pacto de Assistência
Financeira, o que não augura boas perspectivas para o futuro da
Grécia, que se volta a aproximar do abismo.
Para nós portugueses isto é tudo
aquilo que nós não precisavamos. Se a Grécia cair, as atenções
viram-se novamente para nós. Com a Espanha sobre brasas, o nosso
caminho é muito estreito.
É por isso necessária firmeza e
determinação. Não posso deixar de lamentar as declarações de
Mário Soares quando defende que o PS tem que cortar com a Troika.
Para fazer o quê? Qual é a alternativa? Ir atrás de Hollande?
Acabo a falar de quem falei no início.
Sarkozy foi o primeiro Presidente francês, desde 1981, a não
conseguir ser reeleito, com a agravante de, no passado, os mandatos
presidenciais serem de sete anos, inclusive o de Giscard D'Estaing, o
último a não conseguir ser reeleito. Por isso, foi o presidente
mais efémero da história recente francesa. Há quem lhe aponte o
excessivo protagonismo, o que é um facto: com Sarkozy a figura do
primeiro-ministro perdeu peso e influência, levando-se ao extremo o
semi-presidencialismo francês.
Moral da história: a política não é
para quem procura protagonismo, mas sim para quem apresenta
resultados!