Tem feito correr muita tinta a deslocalização fiscal da família Soares dos Santos para a Holanda.
Há que ter cautela, contudo, com algumas reacções encarniçadas que têm pouco de sério e que facilmente caem na contradição.
O editorial de Pedro Santos Guerreiro na edição de ontém do Jornal de Negócios http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=529417&pn=1 parece-me um exercício de grande honestidade intelectual.
Só tenho a apontar uma falha, ou melhor, uma discordância. Eu não vou nessa conversa de que esta deslocalização tem em vista aceder a financiamentos em condições mais competitivas na Holanda.
Eu, que já trabalhei uns anos em análise de risco na Banca, imaginei de pronto uma reunião entre a família Soares dos Santos e um qualquer banco holandês:
"Banco - então os senhores gostariam de receber uma proposta de financiamento por parte da nossa instituição, certo?
Soares dos Santos - sim, percebemos que os senhores poderão apresentar-nos uma proposta competitiva...
Banco - ainda não percebemos muito bem... afinal o que faz o vosso grupo?
Soares dos Santos - actuamos em vários sectores, mas o principal é o da distribuição!
Banco - ah... muito bem! Então, e quantas lojas têm ou vão abrir aqui na Holanda?
Soares dos Santos - nós não vamos abrir qualquer loja na Holanda. Vamos fazê-lo na Polónia e na Colômbia!"
O banqueiro olha embasbacado, pensando nesta chico-espertice "tuga" e, com vontade de os mandar ir pedir os financiamentos na Polónia ou na Colômbia, abre o seu mais amarelado sorriso possível interrogando-se: "então e se a coisa corre mal na Colômbia, nós agarramo-nos a quê? Aos cabelos da Shakira?"
Esta desculpa do acesso aos financiamentos... tem muito que se lhe diga. O poder negocial de um grupo económico tem pouco que ver com a localização da sua sede. Ao invés, tem tudo a ver com a localização das suas operações.