Primeiro a Grécia, depois a Itália. Ironia do destino, são os povos com maior tradição democrática porque viram nascer, ou melhor, criaram a democracia, que a veem agora morrer aos pés dos mercados.
Papandreou e Berlusconi depois de Sócrates fazem subir para quatro (se contarmos também com a Irlanda) o número de primeiros-ministros vitimados pela crise da dívida pública.
Amanhã há eleições em Espanha e, apesar de Zapatero não ser candidato, será o seu PSOE a pagar a factura da mais alta taxa de desemprego de sempre no país e a mais alta em toda a Europa.
Passos Coelho e Mariano Rajoy serão, assim, durante algum tempo, os últimos chefes de Governo eleitos democraticamente no sul da Europa, já que a nova moda é que sejam os mercados a sugerir os nomes dos primeiros ministros que estão a ser indigitados, curiosamente, por Presidentes da República que não foram eleitos por plebiscíto popular universal.
De facto, quer Giorgio Napolitano, quer Karolos Papoulias, Presidentes das Repúblicas Italiana e Grega, respectivamente, ao contrário do que sucede, por exemplo, em Portugal, foram eleitos pelos parlamentos nacionais e não pelo povo.
Ou seja, atalhando, na Grécia e em Itália vamos ter Governos liderados por primeiros-ministros não eleitos pelo povo e indigitados por Presidentes de República não eleitos universalmente. Cumulativamente, são estes Governos que terão a árdua tarefa de implementar as políticas de austeridade que a União Europeia e os tais mercados impuseram.
Pergunto: se líderes eleitos democraticamente com maiorias absolutas não foram capazes de implementar essas medidas na Grécia, ou não foram considerados credíveis na Itália, estão à espera que sejam os novos líderes não eleitos democraticamente que venham a consegui-lo?
Duvido. Não auguro grande futuro a qualquer um destes Governos, até porque a bonanza dos mercados não vai durar muito!
De qualquer modo, espero estar enganado, mais que isso, gostaria de me enganar e poder vir, daqui a uns meses, a este espaço reconhecer que o meu prognóstico estava errado e que estes Governos tinham sido bem sucedidos. Não duvido da competência das pessoas, dúvido é da legitimidade. E isso, sim, é um grande problema!