Trabalhar em Agosto não é tarefa fácil... ou melhor, se quiser fazer algo que dependa de terceiros vai ter grandes dificuldades. Apesar da crise, meio país foi de férias. É verdade que alguns fazem estas férias a pensar que elas serão as últimas nos próximos anos “este ano ainda há dinheiro, no ano que vem não se sabe”... Mas dou comigo a pensar se, em vez de se cortarem nos salários, como aconteceu no ano passado à função pública, se não seria de cortar um ou dois dias de férias. Falo por mim. Desde que abandonei a actividade bancária, há quase dez anos, nunca mais soube o que era ter mais que duas semanas de férias. E, surpresa das surpresas, apesar de trabalhar mais de doze horas por dia, estou vivo!
A produtividade é e será sempre um problema sério que nenhum Governo conseguirá resolver, a menos que se tomem medidas que penalizem seriamente o absentismo e o abuso de alguns expedientes que a lei criou, como é o exemplo do estatuto do trabalhador estudante. Mas há outros...
Em Agosto é impossível trabalhar. Mas, se fosse só em Agosto... Durante o ano inteiro, tantos são os dias de férias, que, dentro de uma organização média, há sempre alguém de férias. E esse alguém, ainda que não premeditadamente, faz parar todo o trabalho que de si depende. Assim, não vamos lá...
Apesar da situação crítica em que se encontra o país, algumas pessoas continuam a fugir áquela que é a realidade. Se é certo que nos últimos anos o mundo rural tem sofrido um ataque atroz: fecho de maternidades, estações de CTT, escolas primárias, não é menos certo que uma certa população urbana, principalmente nas grandes cidades, se habituou a ter tudo de mão beijada por tuta-e-meia, falo, nomeadamente de transportes públicos.
É natural que as pessoas, os utentes dos transportes públicos reajam mal aos aumentos. Mas qual é então a solução? O erro não é o aumento. O erro foram sucessivos Governos que andaram a fazer política social por intermédio de empresas públicas. Ora, o facto de uma empresa ser pública não significa que não deva visar o lucro. Mas, na verdade, nos últimos anos, Carris, Metro, CP, STCP, Metro do Porto, Metro do Sul do Tejo, … foram empresas que visaram o prejuízo. É preciso que alguém diga a estes utentes que as despesas destas empresas têm que ser sustentadas pelos bilhetes e passes pagos por quem os utiliza e não pelos impostos de toda a gente, mesmo de quem nunca saiu da provincia. Esta ideia, muito socialista, de que dividindo os custos por todos, ninguém sente... dá nisto. Era de mobilizar o povo das aldeias para promover uma manif a exigir transportes à porta de casa a cada 10 minutos e passes sociais equivalentes aos que se pagam nas cidades.
Ao mesmo tempo, é de dizer a todos aqueles que não estão contentes com estes aumentos que a alternativa é simples: comprar carro, meter-lhe combustível, levá-lo à revisão, à inspecção periódica obrigatória, pagar o imposto de circulação, pagar o seguro, … é assim que se faz na província. Experimentem e vejam se sai mais barato!
Acrescento ainda que os transportes públicos urbanos existentes fora das áreas metropolitanas são pagos pelos seus utentes e pelos orçamentos municipais.
A propósito das nomeações do novo Governo e também do caso das secretas, não sei o que é que é pior: se aqueles indivíduos que, quando exercem cargos políticos, “namoram” empresas privadas para garantir uma saída profissional na fase pós-política, se os outros que entrando para a actividade política profissional nunca mais de lá saem e se “alapam” a uma qualquer “tachito”, tentando a todo o custo sobreviver e fugir ao desemprego político...
Há muitas coisas que estão mal na lei.A política transformou-se numa actividade de “nós para nós”. O exercício da actividade política é feito sem grandes custos por funcionários públicos, professores universitários, reformados, … As licenças sem vencimento são um expediente estafado que permite a uma minoria entrar e sair quando quer e sem qualquer risco. Assim, é fácil.
Já os que provêem do sector privado – de onde excluo as empresas mistas PT, EDP, REN, … que são encosto para muitos políticos “in the meantime” - só podem fazer política a muito custo porque, para eles, não há cá essas regalias das licenças sem vencimento. Facilmente são considerados traidores à entidade empregadora e acabam por ter que optar por rescindir os seus contratos de trabalho.
Mas vem isto a propósito do quê? De uma constatação muito simples. A lei das incompatibilidades tem que ser revista. A lei permite que um deputado da Assembleia da República exerça advocacia, enquanto legisla em matérias que são determinantes para alguns dos seus clientes. Ao mesmo tempo, um membro de um gabinete de apoio pessoal numa autarquia não pode exercer qualquer outra actividade profissional, já que essa deve ser exercida em exclusivo! Isto não faz nenhum sentido e é bom que se diga isto: se alguém tem que abdicar de uma carreira profissional para poder exercer um cargo político, é natural que isso se torne uma opção de médio-longo. Quanto mais se obriga ao corte com as actividades profissionais, maior será o efeito de retenção destas pessoas na esfera pública. É por isso que Governo após Governo, é cada vez maior o “contigente” de pessoal político em Gabinetes e Assessorias. Não se iludam, o PSD e o CDS/PP têm o direito de nomear os seus, porque ganharam as eleições e têm legitimidade para isso. Até pode haver “less jobs for the boys”, como diz Álvaro Santos Pereira... Mas já agora, pergunto, conhecem alguém que com a mudança do Governo tenha ficado desempregado? Pois, só algum “artolas” é que cai nessa porque, antes do Governo cair, há sempre tempo para se arranjar um lugarzito numa qualquer instituição pública ou empresa mista (semi-pública). E quem paga isto? Nós, os contribuintes e os clientes dessas empresas. Ainda dizem mal do FMI... não fizeram metade do que deviam!
Já agora, se conhecerem algum desempregado político, chamem a televisão. Isso é digno de uma reportagem, tal é a raridade!
Acabo como comecei. Desisto... Ah, está tudo de férias? Então, vou fazer o mesmo.
If you can't beat them, join them!