quinta-feira, 4 de agosto de 2011

“Nós, os ladrões” – da política sem escrúpulos à economia com pedagogia

Ora aí está o artigo que escrevi em Janeiro deste ano e que nunca viu a luz do dia:

"É vergonhosa a campanha que o Bloco de Esquerda colocou na rua. Um cartaz diz qualquer coisa do género “5.000.000.000€, eles roubam tu pagas”. Ora ninguém nega que a anterior gestão foi fraudulenta: ocultou prejuízos, desviou dinheiros, … Ainda hoje não se percebeu bem quais foram os prejuízos escondidos e qual a dimensão do desfalque. São duas situações distintas. No entanto, uma coisa é certa, os 5 mil milhões do “buraco” que se fala não são nem uma coisa nem outra. Os 5 mil milhões do buraco são, na sua esmagadora maioria, dinheiro que a CGD teve que colocar no BPN para compensar a evasão, fuga, hemorragia de dinheiros que os clientes, apavorados com situação, lá foram buscar. Ora, toda a gente sabe, a começar pelo meu ex-professor Louçã, que um balanço de um Banco é feito de origens (os capitais próprios, o dinheiro lá depositado pelos clientes e os capitais angariados junto de outros Bancos) e de aplicações (o dinheiro emprestado aos clientes – boa parte dele a médio longo prazo –, os investimentos e participações noutras sociedades e o imobilizado do Banco). Ora se os clientes lá vão buscar “o seu”, alguém o tem que repor – neste caso é o seu accionista Estado, por intermédio da CGD que o está a fazer.

Resumindo e concluindo, ninguém roubou 5 mil milhões – sairam foi 5 mil milhões do Banco. Agora, o que é verdade é que o Bloco de Esquerda anda, impunemente, a chamar ladrões a todos os ex-clientes do BPN, que, com todo o direito, resgataram as suas aplicações. É caso para se dizer “vai chamar ladrão a outro!”.

Quando Cavaco diz que há problema de gestão no BPN está carregado de razão. Não querendo, nem podendo, nunca, isentar de culpas a anterior administração, a verdade é que a actual falhou, por duas razões fundamentais:

1º – não conseguiu restaurar a credibilidade do Banco junto dos seus clientes e dos mercados;

2º – não conseguiu explicar aos seus clientes, nem aos seus accionistas (que agora somos todos nós) o que é que estava a ser feito, qual era o plano, para onde ía o Banco. Esta gestão tem sido uma autêntica “missa de corpo presente”: nem ressuscita o morto nem o enterra.

Quando Cavaco usa o exemplo dos bancos ingleses, onde foram implementados planos de recuperação bem sucedidos, só peca por um detalhe: é que em Portugal ninguém consegue fazer esssa comparação por se tratar de uma realidade desconhecida. No entanto, na esfera financeira há um caso que pode ser usado. No despontar da crise financeira a AIG, uma seguradora americana que opera à escala global, esteve à beira de falir. Tal só não aconteceu porque o Governo norte americano a salvou. Passados pouco mais de dois anos sobre o takeover da empresa pelo Governo americano, já ninguém se lembra disso e a seguradora (agora sob a designação de Metlife) compete de igual para com as outras seguradoras, que nunca estiveram em risco, porque a sua administração foi competente."

Afinal o buraco é de 2,2 mil milhões de Euro. O que é muito, mas não é isso que está em discussão. O que discuto e o que critico é que não haja alguém capaz de fazer um bocadinho de pedagogia e explicar as coisas como elas são. A falta de pedagogia ajuda a criar um sentimento anti-banqueiros e anti-políticos do qual nada beneficiamos.
Acrescento só que a nacionalização foi um erro. O Estado deveria ter entrado no capital, sim, mas através de um aumento de capital que injectasse dinheiro fresco no Banco, deveria ter exigido o controlo da administração, mudado a designação do Banco, practicado uma política agressiva no sentido de reter as poupanças (a solução era fácil: aumentar os juros dos depósitos a prazo) e, no fim de equilibradas as contas do BPN, poderia sair através de progressivas OPV (ofertas públicas de venda). Não foi essa a solução e, agora, os autores da má solução queixam-se da bondade da solução final. Ele há cada uma...