quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A silly season no seu apogeu

Nos dias que correm, fruto da globalização e das novas tecnologias de informação, a alienação de pensamento é total. De facto, a maioria das pessoas desistiu de pensar pela própria cabeça e passou a raciocinar pela cabeça de outros. Esta situação é terreno fértil para fazedores de opinião - são centenas - que, na televisão, nos jornais e na rádio, passaram a pensar por nós, ou melhor, a dizer-nos como devemos pensar. Eu não desisto de pensar pela minha própria cabeça, por muito trabalho que isso me dê.
Vem isto a propósito de dois casos na ordem do dia: o ainda caso BPN (agora o episódio da privatização) e o caso do INEM.

Todos os anos o Verão é apelidado de silly season (época tola) e a época estival de 2011 não foge à regra.

Confesso que tive dificuldade em perceber o caso da pretensa chamada falsa para o 112. Tamanha foi a violência das reacções dos partidos da oposição, pensei que algo de verdadeiramente catastrófico se tivesse passado. Pensei que a deputada tinha estado a “dar tanga” ao operador telefónico do 112. Pensei que tinha saído uma viatura em falso e que se tinha despistado ou provocado um acidente. Enfim, pensei o pior! Afinal, foi uma chamada teste para perceber se efectivamente o atendimento ocorre ao fim de cinco segundos ou não, conforme diz o presidente do INEM.

Isto leva-me a perguntar: para que serve um deputado? Sim, para que serve um deputado? Alguém disse há algum tempo que existe em Portugal um sentimento fascista anti-parlamentar que se materializa num profundo desdém e desconfiança para com os deputados da AR. Pode-se dizer que, de certa forma, é “preso por ter cão e preso por não o ter”. Ou melhor, são criticados quando não trabalham e são criticados quando trabalham.

Foi dito por alguém que este tipo de experiência (a tal chamada teste) é grave e que é para isso que existe auditorias internas e estudos de eficiência. E eu pergunto: mas alguém acredita que uma auditoria interna, paga pelo INEM, viesse pôr o dedo na ferida em relação às suas debilidades? Por isso, acho que a deputada fez muito bem. Os deputados são eleitos para (além de legislar) fiscalizar a actuação do Governo e dos seus organismos e foi isso que a deputada Joana Barata Lemos fez. Ela não ficou à espera de auditorias e estudos de satisfação que, regra geral, pecam pela sua fraca fiabilidade e credibilidade. Pedir a demissão de um deputado por causa de uma situação em que esse deputado manifestou interesse e vontade de saber qual é a realidade, leva-me a dizer que de facto os bons deputados, para a maior parte do povão, são aqueles que se sentam nas últimas filas a ver o facebook e a dormitar. O povo tem a classe política que merece!

Quanto à deputada, se pudesse dirigir-lhe uma palavra dir-lhe-ía: ”Sra. deputada, não trabalhe tanto! Já está a causar incómodo junto de outros deputados (da oposição)!”

Em relação ao BPN, vou postar de seguida um texto que era suposto ter sido publicado por altura da campanha eleitoral para as presidenciais.

É incrível como alguns partidos continuam a tratar como analfabetos os eleitores...

“Nós, os ladrões” – da política sem escrúpulos à economia com pedagogia

Ora aí está o artigo que escrevi em Janeiro deste ano e que nunca viu a luz do dia:

"É vergonhosa a campanha que o Bloco de Esquerda colocou na rua. Um cartaz diz qualquer coisa do género “5.000.000.000€, eles roubam tu pagas”. Ora ninguém nega que a anterior gestão foi fraudulenta: ocultou prejuízos, desviou dinheiros, … Ainda hoje não se percebeu bem quais foram os prejuízos escondidos e qual a dimensão do desfalque. São duas situações distintas. No entanto, uma coisa é certa, os 5 mil milhões do “buraco” que se fala não são nem uma coisa nem outra. Os 5 mil milhões do buraco são, na sua esmagadora maioria, dinheiro que a CGD teve que colocar no BPN para compensar a evasão, fuga, hemorragia de dinheiros que os clientes, apavorados com situação, lá foram buscar. Ora, toda a gente sabe, a começar pelo meu ex-professor Louçã, que um balanço de um Banco é feito de origens (os capitais próprios, o dinheiro lá depositado pelos clientes e os capitais angariados junto de outros Bancos) e de aplicações (o dinheiro emprestado aos clientes – boa parte dele a médio longo prazo –, os investimentos e participações noutras sociedades e o imobilizado do Banco). Ora se os clientes lá vão buscar “o seu”, alguém o tem que repor – neste caso é o seu accionista Estado, por intermédio da CGD que o está a fazer.

Resumindo e concluindo, ninguém roubou 5 mil milhões – sairam foi 5 mil milhões do Banco. Agora, o que é verdade é que o Bloco de Esquerda anda, impunemente, a chamar ladrões a todos os ex-clientes do BPN, que, com todo o direito, resgataram as suas aplicações. É caso para se dizer “vai chamar ladrão a outro!”.

Quando Cavaco diz que há problema de gestão no BPN está carregado de razão. Não querendo, nem podendo, nunca, isentar de culpas a anterior administração, a verdade é que a actual falhou, por duas razões fundamentais:

1º – não conseguiu restaurar a credibilidade do Banco junto dos seus clientes e dos mercados;

2º – não conseguiu explicar aos seus clientes, nem aos seus accionistas (que agora somos todos nós) o que é que estava a ser feito, qual era o plano, para onde ía o Banco. Esta gestão tem sido uma autêntica “missa de corpo presente”: nem ressuscita o morto nem o enterra.

Quando Cavaco usa o exemplo dos bancos ingleses, onde foram implementados planos de recuperação bem sucedidos, só peca por um detalhe: é que em Portugal ninguém consegue fazer esssa comparação por se tratar de uma realidade desconhecida. No entanto, na esfera financeira há um caso que pode ser usado. No despontar da crise financeira a AIG, uma seguradora americana que opera à escala global, esteve à beira de falir. Tal só não aconteceu porque o Governo norte americano a salvou. Passados pouco mais de dois anos sobre o takeover da empresa pelo Governo americano, já ninguém se lembra disso e a seguradora (agora sob a designação de Metlife) compete de igual para com as outras seguradoras, que nunca estiveram em risco, porque a sua administração foi competente."

Afinal o buraco é de 2,2 mil milhões de Euro. O que é muito, mas não é isso que está em discussão. O que discuto e o que critico é que não haja alguém capaz de fazer um bocadinho de pedagogia e explicar as coisas como elas são. A falta de pedagogia ajuda a criar um sentimento anti-banqueiros e anti-políticos do qual nada beneficiamos.
Acrescento só que a nacionalização foi um erro. O Estado deveria ter entrado no capital, sim, mas através de um aumento de capital que injectasse dinheiro fresco no Banco, deveria ter exigido o controlo da administração, mudado a designação do Banco, practicado uma política agressiva no sentido de reter as poupanças (a solução era fácil: aumentar os juros dos depósitos a prazo) e, no fim de equilibradas as contas do BPN, poderia sair através de progressivas OPV (ofertas públicas de venda). Não foi essa a solução e, agora, os autores da má solução queixam-se da bondade da solução final. Ele há cada uma...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um post politicamente incorrecto

Caro leitor, está prestes a ler o meu mais crú e controverso “post”.
Trabalhar em Agosto não é tarefa fácil... ou melhor, se quiser fazer algo que dependa de terceiros vai ter grandes dificuldades. Apesar da crise, meio país foi de férias. É verdade que alguns fazem estas férias a pensar que elas serão as últimas nos próximos anos “este ano ainda há dinheiro, no ano que vem não se sabe”... Mas dou comigo a pensar se, em vez de se cortarem nos salários, como aconteceu no ano passado à função pública, se não seria de cortar um ou dois dias de férias. Falo por mim. Desde que abandonei a actividade bancária, há quase dez anos, nunca mais soube o que era ter mais que duas semanas de férias. E, surpresa das surpresas, apesar de trabalhar mais de doze horas por dia, estou vivo!
A produtividade é e será sempre um problema sério que nenhum Governo conseguirá resolver, a menos que se tomem medidas que penalizem seriamente o absentismo e o abuso de alguns expedientes que a lei criou, como é o exemplo do estatuto do trabalhador estudante. Mas há outros...
Em Agosto é impossível trabalhar. Mas, se fosse só em Agosto... Durante o ano inteiro, tantos são os dias de férias, que, dentro de uma organização média, há sempre alguém de férias. E esse alguém, ainda que não premeditadamente, faz parar todo o trabalho que de si depende. Assim, não vamos lá...

Apesar da situação crítica em que se encontra o país, algumas pessoas continuam a fugir áquela que é a realidade. Se é certo que nos últimos anos o mundo rural tem sofrido um ataque atroz: fecho de maternidades, estações de CTT, escolas primárias, não é menos certo que uma certa população urbana, principalmente nas grandes cidades, se habituou a ter tudo de mão beijada por tuta-e-meia, falo, nomeadamente de transportes públicos.
É natural que as pessoas, os utentes dos transportes públicos reajam mal aos aumentos. Mas qual é então a solução? O erro não é o aumento. O erro foram sucessivos Governos que andaram a fazer política social por intermédio de empresas públicas. Ora, o facto de uma empresa ser pública não significa que não deva visar o lucro. Mas, na verdade, nos últimos anos, Carris, Metro, CP, STCP, Metro do Porto, Metro do Sul do Tejo, … foram empresas que visaram o prejuízo. É preciso que alguém diga a estes utentes que as despesas destas empresas têm que ser sustentadas pelos bilhetes e passes pagos por quem os utiliza e não pelos impostos de toda a gente, mesmo de quem nunca saiu da provincia. Esta ideia, muito socialista, de que dividindo os custos por todos, ninguém sente... dá nisto.
Era de mobilizar o povo das aldeias para promover uma manif a exigir transportes à porta de casa a cada 10 minutos e passes sociais equivalentes aos que se pagam nas cidades.
Ao mesmo tempo, é de dizer a todos aqueles que não estão contentes com estes aumentos que a alternativa é simples: comprar carro, meter-lhe combustível, levá-lo à revisão, à inspecção periódica obrigatória, pagar o imposto de circulação, pagar o seguro, … é assim que se faz na província. Experimentem e vejam se sai mais barato!
Acrescento ainda que os transportes públicos urbanos existentes fora das áreas metropolitanas são pagos pelos seus utentes e pelos orçamentos municipais.

A propósito das nomeações do novo Governo e também do caso das secretas, não sei o que é que é pior: se aqueles indivíduos que, quando exercem cargos políticos, “namoram” empresas privadas para garantir uma saída profissional na fase pós-política, se os outros que entrando para a actividade política profissional nunca mais de lá saem e se “alapam” a uma qualquer “tachito”, tentando a todo o custo sobreviver e fugir ao desemprego político...
Há muitas coisas que estão mal na lei.
A política transformou-se numa actividade de “nós para nós”. O exercício da actividade política é feito sem grandes custos por funcionários públicos, professores universitários, reformados, … As licenças sem vencimento são um expediente estafado que permite a uma minoria entrar e sair quando quer e sem qualquer risco. Assim, é fácil.
Já os que provêem do sector privado – de onde excluo as empresas mistas PT, EDP, REN, … que são encosto para muitos políticos “in the meantime” - só podem fazer política a muito custo porque, para eles, não há cá essas regalias das licenças sem vencimento. Facilmente são considerados traidores à entidade empregadora e acabam por ter que optar por rescindir os seus contratos de trabalho.
Mas vem isto a propósito do quê? De uma constatação muito simples. A lei das incompatibilidades tem que ser revista. A lei permite que um deputado da Assembleia da República exerça advocacia, enquanto legisla em matérias que são determinantes para alguns dos seus clientes. Ao mesmo tempo, um membro de um gabinete de apoio pessoal numa autarquia não pode exercer qualquer outra actividade profissional, já que essa deve ser exercida em exclusivo! Isto não faz nenhum sentido e é bom que se diga isto: se alguém tem que abdicar de uma carreira profissional para poder exercer um cargo político, é natural que isso se torne uma opção de médio-longo. Quanto mais se obriga ao corte com as actividades profissionais, maior será o efeito de retenção destas pessoas na esfera pública. É por isso que Governo após Governo, é cada vez maior o “contigente” de pessoal político em Gabinetes e Assessorias. Não se iludam, o PSD e o CDS/PP têm o direito de nomear os seus, porque ganharam as eleições e têm legitimidade para isso. Até pode haver “less jobs for the boys”, como diz Álvaro Santos Pereira... Mas já agora, pergunto, conhecem alguém que com a mudança do Governo tenha ficado desempregado? Pois, só algum “artolas” é que cai nessa porque, antes do Governo cair, há sempre tempo para se arranjar um lugarzito numa qualquer instituição pública ou empresa mista (semi-pública). E quem paga isto? Nós, os contribuintes e os clientes dessas empresas. Ainda dizem mal do FMI... não fizeram metade do que deviam!
Já agora, se conhecerem algum desempregado político, chamem a televisão. Isso é digno de uma reportagem, tal é a raridade!

Acabo como comecei. Desisto... Ah, está tudo de férias? Então, vou fazer o mesmo.
If you can't beat them, join them!